quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Dicas para começar a usar a bicicleta como meio de transporte - Parte 4: Escolha um percurso adequado

[Este é o quarto de uma série de artigos (ver artigo inicial, ver segundo artigo, ver terceiro artigo) dedicados a quem quer começar a utilizar a bicicleta como meio de transporte e ainda não sabe muito bem por onde começar. Trata-se de uma série de artigos que aborda diversos temas, desde a escolha da bicicleta à aprendizagem de um estilo de condução adequado.]

Ao escolher o seu percurso, há algumas variáveis importantes a levar em consideração. Em primeiro lugar, a sua forma física e a sua experiência enquanto condutor e ciclista. Em segundo lugar, a distância a percorrer e as condições no terreno: inclinação, tipo de estrada, trânsito, etc.

8. Use os mapas

Consulte o mapa da sua cidade e defina uma rota que seja tão direta quanto possível, mas tente evitar para já as inclinações mais acentuadas. Mais tarde, poderá explorar também essas ruas, mas é preferível começar de forma gradual.

Evite também as chamadas "vias rápidas" e outros eventuais trechos que se encontrem vedados à circulação de velocípedes. Lembre-se contudo que a bicicleta é um veículo e, como tal, pode circular normalmente na maior parte das ruas e estradas.

Para além dos mapas em papel, podem ser muito úteis os serviços de mapas on-line. O Google Maps, por exemplo, tem uma funcionalidade para ciclistas que, infelizmente, ainda não está disponível em Portugal, mas pode mesmo assim ser útil: se selecionarmos as rotas pedestres, temos um caminho um pouco mais adequado a ciclistas. Existe também o MapMyRide que tem a vantagem de permitir desenhar uma rota no mapa e visualizar um gráfico com a variação da inclinação ao longo desse percurso.

9. Explore a sua cidade de bicicleta

Se está a começar, comece por explorar os seus possíveis percursos previamente, por exemplo num fim de semana. Isso permitir-lhe-á conhecer melhor as ruas, com calma e talvez até com menos trânsito, para ficar com uma noção mais clara das distâncias, bem como dos obstáculos ou dificuldades que possa encontrar em cada uma delas. Não há como sair a pedalar para ficar a saber se um certo trajeto é ou não demasiado inclinado, por exemplo.

Pedale descontraidamente, sem pressas, e aproveite para contar o tempo que demora cada um dos percursos. Mas lembre-se: a ideia não é fazer uma corrida contra o tempo, mas sim ficar a saber quanto tempo demora, fazendo o caminho de forma mais ou menos relaxada. A regra é simples: quanto mais rápido pedalamos, mais aquecemos e mais suados chegamos ao destino; mas se pedalarmos ao nosso próprio ritmo, podemos fazer vários quilómetros sem grande esforço. Deste modo, saberá a que horas precisa de sair de casa, para chegar pontual ao seu local de trabalho.

Ao explorar a cidade, esteja atento(a) a eventuais atalhos que possam vir a facilitar-lhe as suas viagens de bicicleta.

10. Pense como ciclista, não como motorista

O melhor caminho para um ciclista é muitas vezes diferente daquele que mais convém a um automobilista. Se ao automóvel convêm rotas que incluam estradas rápidas e largas, poucos cruzamentos e sinais de stop ou cedência de passagem, ao ciclista interessam antes rotas tão diretas quanto possível, com pouca inclinação e preferencialmente com trânsito automóvel lento, ou com pouco ou nenhum trânsito automóvel. As ruas secundárias são particularmente úteis para quem vai de bicicleta: são rápidas, muitas vezes são mais diretas e têm menos trânsito ou, pelo menos, trânsito mais lento.

Além disso, o ciclista pode facilmente transpor alguns obstáculos impossíveis a um carro, até porque basta apear-se e levar a bicicleta pela mão, sempre que isso for necessário.

Outro fenómeno que acontece muitas vezes é o facto de determinadas estradas serem mais movimentadas em determinadas horas e ficarem praticamente desertas noutros horários. Conhecendo esse pulsar, podemos usá-lo a nosso favor. Se uma rua tem engarrafamento a uma determinada hora, isso significa que o trânsito está mais lento e, provavelmente, bem mais seguro para um ciclista. Se a uma outra hora a rua fica mais ou menos deserta e não há carros a circular a alta velocidade, ótimo!

11. Junte-se aos seus vizinhos ciclistas

A partir do momento em que passar a andar de bicicleta na sua cidade, irá perceber que, mesmo sendo ainda uma minoria, há dezenas ou centenas de vizinhos seus que já usam a bicicleta no seu dia a dia. Fale com alguns deles, para perceber quais os percursos utilizados mais frequentemente pelos ciclistas mais experientes. Afinal, todos eles tiveram também de explorar inicialmente até encontrarem os seus percursos preferidos.

Participe em eventos de ciclismo urbano, como a Massa Crítica, a Cicloficina ou os Encontros com Pedal. Isso dar-lhe-á a oportunidade de meter conversa com alguns dos ciclistas com quem, muito provavelmente, se passará a cruzar no seu quotidiano. Aproveite para trocar experiências e conhecer os melhores percursos para bicicletas.

Junte-se a uma associação local de ciclistas urbanos, se existir, e use os grupos existentes nas redes sociais para descobrir outros ciclistas e trocar experiências e ideias.

(continua...)

2 comentários:

anabananasplit disse...

«Se ao automóvel convêm rotas que incluam estradas rápidas e largas, poucos cruzamentos e sinais de stop ou cedência de passagem, ao ciclista interessam antes rotas tão diretas quanto possível, com pouca inclinação e preferencialmente com trânsito automóvel lento, ou com pouco ou nenhum trânsito automóvel. As ruas secundárias são particularmente úteis para quem vai de bicicleta: são rápidas, muitas vezes são mais diretas e têm menos trânsito ou, pelo menos, trânsito mais lento.»

Não concordo. O trânsito mais lento normalmente significa maior volume de tráfego e velocidades mais inconstantes, ou seja, mais poluição, que é péssima pró ciclista. Ao ciclista também interessam "estradas rápidas e largas, poucos cruzamentos e sinais de stop ou cedência de passagem", para poder ir mais depressa em segurança e manter o ritmo.

As estradas secundárias são isso mesmo, secundárias, perdendo prioridade para as estradas principais, o que significa STOPs e semáforos. O pára-arranca consome muita energia, e o motor da bicicleta é o condutor, no carro é só carregar no acelerador.

Claro que o contexto da viagem influencia os factores que mais valorizamos a dado momento (velocidade vs. conforto ou prazer), mas nos movimentos pendulares, principalmente de manhã, a rapidez é muito relevante.

Quem vai de carro também opta por uma ou outra rota usando critérios mais emocionais ou psicológicos, mas o ambiente exterior é muito menos relevante porque está isolado dele e muitas vez parar quando apetece não é viável.

O deixar de pensar como um motorista terá mais a ver com um conjunto de possibilidades novas que não estão disponíveis ao motorista, mas também a um conjunto de facilidades que nos ficam vedadas se formos de bicicleta - falo de acessibilidade e permeabilidade urbana.

Victor Domingos disse...

Ana, obrigado pela reflexão e pelo valioso comentário.

Evidentemente, concordo com os teus reparos. A minha perspectiva é certamente influenciada pela circunstância de eu circular sobretudo em Braga, onde o trâfego é bem diferente do de Lisboa. Aqui, raramente temos filas de trânsito intermináveis, e poucos semáforos precisamos de atravessar para chegar ao nosso destino.

Em todo o caso, o que eu pretendia salientar no artigo era que a seleção de rotas por parte do ciclista vai obedecer normalmente a critérios um pouco diferentes daqueles que utilizamos quando conduzimos um carro. Cada um, segundo a sua preferência e a valorização pessoal dos diversos fatores, saberá selecionar o caminho que mais lhe convém, depois de alguma exploração inicial.

No meu caso, de biicleta uso uma rota "secundária" nas minhas deslocações para o trabalho, mas ainda assim é uma rota mais direta do que aquela que uso quando tenho de me deslocar de carro: menos 25% da distância, menos inclinação, menos tráfego automóvel (menos fumos também, como bónus), menos velocidade geral desse mesmo tráfego.

Além disso, tem ainda a vantagem de ser um percurso que passa por várias lojas úteis (mercearia, frutaria, minimercado, café, pastelaria), pelo que posso parar sempre que me apetece para lanchar ou fazer as compras que preciso. De automóvel, seguiria por uma rota "principal" com perfil de auto-estrada, onde nada disso seria possível sem efectuar desvios... ;-)