Na última semana deste Mês das Bicicletas, proliferaram por este país os eventos sociais com bicicletas em contexto urbano. E nem a chuva foi capaz de demover dezenas ou centenas de participantes.
Como vem sendo habitual, na última sexta-feira de cada mês realiza-se de Norte a Sul, e também lá fora, a Bicicletada ou Massa Crítica. Umas vezes com menos participantes, outras com mais. Em Lisboa, diz que houve desta vez 126 participantes a pedalar pela cidade. Certamente que não são os únicos ciclistas urbanos da cidade de Lisboa, até porque estes eventos decorrem habitualmente num horário que para muitos será difícil de conciliar com as obrigações laborais. Mas é bom ver que mesmo assim existe uma forte adesão, mostrando união em torno da ideia de que a bicicleta é uma importante mais-valia para as cidades modernas e que devem ser criadas mais condições para o seu uso generalizado. Parabéns, Lisboa!
Também em Lisboa, realizou-se este sábado o 1º Evento Cycle Chic Lisboa, com quase 200 participantes. A chuva forte que se fez sentir não impediu que as bicicletas saíssem à rua com a naturalidade e elegância que lhes é própria. Parabéns à organização do evento!
Cá por Braga, costuma também realizar-se mensalmente a Massa Crítica (na qual infelizmente não tive ainda a oportunidade de participar), mas ainda não tive notícia sobre a última edição...
Em todo o caso, os Encontros com Pedal têm juntado aos fins de semana alguns dos ciclistas urbanos bracarenses. Com uma vertente um pouco menos reivindicativa e quicá mais prazerosa, juntam miúdos e graúdos em passeios descontraídos pelo centro da cidade. É uma espécie de turismo com os nossos vizinhos quase sem sair de casa - agrada-me particularmente o facto de haver lugar nestes passeios para os ciclistas de todas as idades.
Esta semana, houve ainda lugar para uma pedalada em dia útil, inserida na iniciativa "MOVE-TE PELA ESCLEROSE MÚLTIPLA". A organização dos Encontros com Pedal ajudou na divulgação do evento na cidade de Braga, mas pedaladas e caminhadas semelhantes decorreram no mesmo dia em cerca de uma dezena de cidades portuguesas. Mesmo não sendo um evento de promoção do ciclismo utilitário, não deixa de ser uma forma útil de dar uso à bicicleta.
...
Este tipo de eventos, que proliferam com a chegada da primavera e a aproximação do verão, mostram que 1) há muitas bicicletas prontas a usar nas cidades e que 2) há vontade de as usar. Falta apenas qualquer coisa para que essa vontade se concretize de forma mais frequente e generalizada.
A um nível individual, falta perder o receio de ser visto como um "maluquinho contra-corrente que deixa o automóvel em casa", e aprender a circular de bicicleta nas ruas da cidade de forma segura e eficiente. Para além do conhecimento do Código da Estrada, pode ser particularmente útil o contacto com ciclistas urbanos mais experientes, ou então a leitura das suas experiências, algo que é extremamente fácil de encontrar na Internet. As comunidades de ciclistas urbanos, como os Encontros com Pedal, a Massa Crítica e a MUBi, podem certamente dar uma ajuda preciosa nesse processo.
A um nível local, é necessário criar condições que promovam e facilitem o uso normal da bicicleta como meio de transporte. Apontaria, como exemplo, a criação de uma rede de vias cicláveis (não necessariamente ciclovias, mas vias onde esteja efetivamente prevista a circulação de bicicletas) a unir os principais pontos da cidade, com piso, dimensão, inclinação e regulamentação adequada a esse meio de transporte. Muitas dessas vias podem perfeitamente ser as ruas já existentes, com pequenos ajustes na sinalização horizontal e vertical. Noutros casos, pode ser útil por exemplo a demarcação de uma área reservada a ciclistas, ou uma faixa partilhada entre estes e os transportes públicos. Devem estar previstos estacionamentos adequados (isto é, que permitam prender facilmente o quadro e ambas as rodas da bicicleta, sem a danificar), em quantidade suficiente, por toda a cidade.
A um nível nacional, é urgente alterar o Código da Estrada por forma a aumentar a segurança dos ciclistas, por exemplo promovendo uma acalmia de trânsito nos centros urbanos e aplicando o princípio da proteção dos mais vulneráveis (peões ou ciclistas). É também importante promover a formação de condutores (de bicicletas ou eventualmente de outros veículos) desde cedo, nas escolas. O Primeiro Ciclo pode e deve dar os primeiros ensinamentos sobre como se usa uma bicicleta como meio de transporte útil, uma formação que se deve estender ao longo dos ciclos seguintes. As escolas de condução podem e devem aproveitar para propor aos seus clientes cursos de condução de bicicleta - um serviço que para além de ser inovador, fará com que não fiquem de fora da corrida quando o carro deixar de ser a primeira opção. Acrescentaria ainda que em matéria de legislação e Orçamento de Estado muito mais se pode pensar e fazer. Benefícios fiscais para quem opta por comprar e usar bicicleta em vez do carro, subsídio de transporte no emprego para quem for de bicicleta, programas de apoio à compra e utilização de bicicletas utilitárias, etc.
Num tempo em que o orçamento familiar vai encolhendo e o preço do petróleo vai aumentando, é natural que cada vez mais pessoas se interessem por este meio de transporte que além de económico é amigo do ambiente. Parece haver um aumento desse interesse, e podemos mesmo estar num momento-chave para uma evolução positiva em matéria de mobilidade sustentável. Nesta matéria, como afinal em tantas outras, cabe a todos e a cada um dar o seu contributo pessoal.
Sem comentários:
Enviar um comentário