quinta-feira, 26 de maio de 2011

Meditando a partir das Conversas no Tanque...

Tive a oportunidade de estar presente esta noite na Velha-a-Braga, durante uma edição das Conversas no Tanque dedicada ao tema da mobilidade urbana em bicicleta, onde pudemos escutar na primeira pessoa os testemunhos de Miguel Barbot (Um pé no Porto e outro no pedal) e Sérgio Moura (De Bicicleta no Porto).

Falou-se um pouco de tudo - da escolha da bicicleta certa para pedalar na cidade, das ciclovias, dos capacetes, das alterações que é preciso fazer ao Código da Estrada, dos mitos dos declives, dos exemplos de Amesterdão ou Portland, da falta de estacionamento para bicicletas, do impacto positivo do uso da bicicleta na qualidade de vida das pessoas e na sua relação com a sua cidade, etc...

Isto de eleger a bicicleta como meio de transporte preferencial é uma coisa simples, mas que tem muito que se lhe diga. Há inúmeras questões de ordem prática, que interessam aos utilizadores desse meio de transporte. Mas há muitas outras questões. Por exemplo, nas áreas da Educação (a necessidade de formar peões, ciclistas e automobilistas responsáveis desde o início da idade escolar), do Urbanismo (localização das áreas habitacionais, a falta de uma rede de vias realmente cicláveis a unir os principais pontos da cidade, os estacionamentos para bicicletas, a integração com transportes públicos) e da Legislação (a necessidade de rever o Código da Estrada dando mais proteção e prioridade aos ciclistas).

Tirando o facto de a assistência a este tipo de eventos ser, como habitualmente, reduzida a um pequeno grupo de pessoas, diria que esta reunião soube a pouco, porque muito haveria ainda para conversar. Mas ainda assim, seria bom que os temas abordados chegassem aos ouvidos de certas classes dirigentes da cidade de Braga.

Num futuro mais ou menos próximo, talvez outros eventos um pouco mais formais possam vir a contar com representações oficiais das juntas de freguesia, da câmara municipal e de outras instituições responsáveis pelo planeamento urbano. Quem sabe, possa até proceder-se à elaboração de um conjunto de atas a fornecer à comunicação social e a essas mesmas instituições.

...

O futuro da bicicleta em cidades como Braga passa também, em grande medida, pela promoção efetiva deste meio de transporte junto da população escolar e universitária (incluindo alunos e docentes). É algo que não pode ser descurado, pelo que é necessário sensibilizar e envolver associações de pais (quem é que não gostaria de ver os seus filhos a pedalar em segurança até à escola, em vez de enfrentar uma fila de carros?...), alunos, docentes e ainda os diretores das escolas.

Para quê? Para ajudar os órgãos decisores a delinear soluções práticas e funcionais em termos de urbanismo, mas sem descurar a educação do público jovem numa área tão importante como é a circulação rodoviária. O objetivo seria, a médio prazo, criar condições para que muitos pais acompanhassem os seus filhos à escola em bicicleta e que os alunos mais crescidos passassem a utilizar esse meio de transporte na deslocação casa-escola, em segurança.

Para quem vive numa cidade como Braga e não anda de bicicleta nem se interessa por estas questões, pode parecer um cenário idílico e idealista. Mas não é. Há escolas portuguesas onde já se promove o uso da bicicleta - e onde a bicicleta é efetivamente utilizada pelos alunos.

2 comentários:

Pedro Portela disse...

Gosto do post e do enunciado de questões, que são muito pertinentes.
Quanto às alterações ao código da estrada, gostava de saber existe alguma súmula de qual devam ser as alterações, e que resuma, de certo modo, a opinião da "comunidade utilizadora de bicicleta"? Teria muito interesse em ler algo do género.
Relativamente à parte em que as crianças vão de bicicleta para a escola, acho duvidoso; embora ache que seria de todo conveniente e muito importante para o desenvolvimento humano e social das crianças. É que o problema não está no facto de a criança ter essa vontade; está mais no facto de os pais verem isso como seguro, mesmo para além da (in)segurança que possa suscitar o próprio transporte na via pública. Não se pode esquecer que hoje, os miúdos já não brincam na rua como dantes. E isso tem reflexos importantes naquilo que os pais vêem como seguro - e isso tem pouco a ver com a segurança do tráfego em si ou das virtudes e da segurança que o transporte em bicicleta possa ter. E não falo apenas de crianças de 7 ou 8 anos. Estou a falar de faixas etárias que chegam a ir aos 15 anos.

Victor Domingos disse...

Provalvelmente já terá havido vários sites a listar sugestões de alterações ao Código da Estrada português. A MUBi está a trabalhar no sentido de criar um relatório sobre isso, para servir de base de trabalho, para legisladores e para a comunidade em
geral:

http://mubi.pt/projectos/alteracoes-ao-codigo-da-estrada

Nessa página há links para documentos que têm vindo a ser utilizados nos contactos com as instituições.


Quanto às crianças irem de bicicleta para a escola, concordo que a segurança no trânsito (real e/u percebida) é apenas uma parte da equação. Muitas crianças e adolescentes não terão desenvolvido o nível de autonomia necessário para se deslocarem sozinhas para a a escola. Muitos pais não se sentirão confortáveis com a ideia de os filhos poderem decidir, pelo caminho, se vão directos para a escola, ou se em vez disso fazem outras coisas...

O link que deixei no final do artigo mostra o que se passa em Portugal, mais concretamente na Murtosa:

http://www.massacriticapt.net/?q=node/1268

Há sem dúvida obstáculos que estão a ser vencidos nessa escola. E há formas de ultrapassar as dificuldades de implementação.

Por exemplo, se os pais têm receio de deixar os filhos irem sozinhos, porque não criar uma espécie de "Bike bus" ou "autocarro escolar de bicicleta", em que um ou mais pais se disponibilizam para acompanhar os filhos num determinado trajeto. À medida que vão passando pelas diferentes ruas, as crianças juntam-se ao comboio de bicicletas. Seguem todos o mesmo caminho, são acompanhadas por um ou mais adultos e reduz-se o número de carros e pessoas necessárias para levar os filhos à escola.

Os alunos mais velhos poderão a certa altura já não necessitar desse tipo de acompanhamento e fazer a coisa de forma autónoma:

http://www.youtube.com/watch?v=F0lfqShrRlE