Alice Jeri tem 22 anos e estuda no Porto (Portugal), uma cidade que ainda carece profundamente de infra-estruturas adequadas ao uso generalizado da bicicleta. Apesar disso, a Alice decidiu fazer da sua bicicleta a companheira indispensável para as deslocações do dia-a-dia. Vejamos o que tem para nos contar...
Há quanto tempo vais de bicicleta para a universidade?
Cerca de 2 anos e meio.
Porque decidiste começar a ir de bicicleta?
Na minha cidade de origem, Ovar, a bicicleta é o meio de transporte indiscutível, sobretudo para os adolescentes. Ao vir estudar e viver para o Porto não pensei que me fosse ser útil, além de achar o Porto uma cidade acidentada! No entanto, ao diversificar as actividades, acabei por passar a gastar muito tempo em deslocações na cidade e foi então que um amigo que pertencia à Massa Crítica me falou deste movimento e me convenceu a trazer a bicla para a Invicta.
Que distância percorres nesse percurso? Que tempo demora?
1,5 km, 7 minutos.
Quais têm sido, no teu caso, as vantagens práticas de utilizares a bicicleta como meio de transporte preferencial?
Trazer a bicicleta para o Porto foi uma grande melhoria na minha qualidade de vida! Para além das aulas, estou envolvida em várias actividades que decorrem maioritariamente na zona da Baixa - que consegue ser interminável quando percorrida a pé e muito mais acessível de bicicleta. Para além do tempo que poupo, há a acrescentar o dinheiro em transportes... e sobretudo no stress, pela segurança de chegar sempre no tempo planeado.
De bicicleta só quando dá sol… ou também quando o tempo é mais agreste?
Praticamente todos os dias, só mesmo quando "chovem picaretas" é que a encosto.
Que tipo de bicicletas tens?
Duas de montanha, bastante simples e ambas para usos do dia-a-dia (uma em Ovar e outra no Porto).
Qual o equipamento que usas no teu dia-a-dia de ciclista?
As luzes estão em falta... nenhum vestuário específico. Trago uma chave comigo para apertar o volante que por vezes se solta. De resto a bicicleta tem um cesto traseiro, pelo que não uso normalmente alforges. Ocasionalmente, capacete.
Qual a tua ocupação actual?
Estudante de medicina.
O que dizem as pessoas quando lhes contas que vais regularmente de bicicleta para a universidade?
Normalmente as reacções são positivas e de encorajamento, embora não poucas vezes seguidas de um "eu não era capaz, mas...."
Tens alguma peripécia relacionada com o uso da bicicleta, divertida ou interessante, que queiras partilhar?
Durante este verão participei com alguns amigos portugueses no "Ecotopia Biketour", uma viagem de bicicleta que percorre todos os anos um diferente trajecto europeu e que reúne participantes de muitos países com as preocupações ambientais e o gosto pelas pedaladas em comum. Embora toda a viagem decorra de forma comunitária, não pedalamos sempre a par... certo dia de grande tempestade, e após pedalar 6h apenas com um amigo por caminhos secundários, sem bússola, sem sol e com os mapas encharcados, a situação tornava-se desesperada. Faltavam ainda mais de 20 km para o destino mas estávamos razoavelmente perdidos, encharcados, esgotados... e acima de tudo sem comida, numa altura em que caía já a noite. À beira do pânico bati à porta da primeira casa para pedir comida. A recepção foi a melhor possível! Além das sandes de chocolate com café e de bons dois dedos de conversa, ainda nos deram boleia de carrinha para a estação mais próxima :)
Praticas algum tipo de desporto, para além do teu percurso diário de bicicleta?
Sim, judo.
O que pensas da cidade do Porto, no que se refere às infra-estruturas rodoviárias existentes e à relação com os ciclistas?
As infra-estruturas dificilmente poderiam ser piores... As ruas da baixa são geralmente estreitas, com passeios acanhados, trânsito em sentido único e uma fila de carros estacionada - que a ser retirada poderia transformar a rua em duplo sentido, pelo menos para bicicletas. As bicicletas são obrigadas a andar muitas vezes em contra-mão ou nos passeios para não fazer desvios incomportáveis. As ciclopistas turísticas, como a da Foz, estão mal desenhadas obrigando a circuitos ilógicos. O piso da cidade é desadequado e o civismo dos automobilistas deixa muito a desejar... Apitadelas, "apertões" e mesmo insultos são a ordem do dia. Faz falta uma política de planeamento que devolva as cidades às pessoas!
6 comentários:
Excelente iniciativa. Cheguei a pensar em fazer o mesmo no Lisbon Cycle Chic ou no Velocipedi@, semelhante às entrevistas semanais do I Bike London. O teu modelo parece-me semelhante. Muito bom!
Ah, e parabéns à Alice. Sonho com o dia em que dar estes parabéns passe a ser uma coisa imbecil... por enquanto, cada pessoa a mais numa bicicleta, é uma vitória!
Creio que existem na net vários sites a publicar este tipo de testemunhos. A minha principal inspiração para esta série de entrevistas foram os "Bike Commuter Profiles" do site BikeCommuters.com. O modelo que uso vem daí, com algumas adaptações minhas.
Sim, pode ser que um dia deixe de fazer sentido este tipo de entrevistas, e este tipo de blogs :) E será bom sinal, espero.
...e parabéns pelo Lisbon Cycle Chic e pelo Velocipedi@, que vão ter links por aqui muito brevemente!
Olha a Alice... :)
Eu ando com vontade fazer algo semelhante, mas quase só centrado na parte fotográfica... será mais um projecto fotográfico do que jornalístico/interventivo...
Quem sabe não poderemos juntar esforços ;)
Abraço e bom trabalho!
Sérgio
Algo tipo um Porto Cycle Chic? :-)
Não é bem porque não é preciso ser Chic... apenas Cycle ;)
Certo :-) Aqui por Braga não é muito fácil apanhar ciclistas a circular, nesta altura do ano. Ando eu e mais uns poucos. Só quando dá sol... e claro, ao domingo em grupos. Para fotografar malta de bicicleta sem ser os domingueiros equipados de BTT, só mesmo esperando pela Primavera.
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