segunda-feira, 18 de abril de 2011

De bicicleta na cidade: devemos andar pelos passeios?

Diz o senso comum que na cidade o lugar mais seguro para andar de bicicleta são os passeios e bermas. Tenho vindo a observar, a este propósito, que alguns ciclistas urbanos preferem pedalar pelos passeios, mesmo em ruas com bom piso e pouco movimento. E embora compreenda em parte os motivos que levam a esse tipo de comportamento, creio ser uma prática a evitar, por vários motivos.
 

1. Andar de bicicleta nos passeios é ilegal

Ainda que o Código da Estrada português apresente ainda algumas lacunas em matéria de inclusão e proteção dos ciclistas, convém ter presente que é o Código da estrada que dita as regras de circulação na via pública e que este deve ser cumprido sempre que possível. Por isso, um dos motivos para circular de bicicleta na faixa de rodagem e não nos passeios é precisamente porque a lei assim determina. No passeio, de acordo com o CE, os ciclistas devem desmontar e levar a bicicleta pela mão.

2. Andar nos passeios é perigoso

Há vários perigos à espreita nos passeios. Boa parte deles são demasiado estreitos e têm buracos ou outros obstáculos que dificultam imenso a circulação dos ciclistas: é frequente haver degraus, pilaretes, árvores, bancos, postes, marcos de correio, sinais de trânsito, etc.

Quem vai a sair de um edifício geralmente não espera que venha uma bicicleta a circular no passeio, o que pode originar acidentes de certa gravidade. Além disso, os passageiros dos carros estacionados junto ao passeio podem a qualquer momento abrir as suas portas, resultando num dos tipos de acidentes mais frequentes com ciclistas.

3. Pelo passeio demoramos mais tempo

Os passeios estão concebidos para a circulação de peões, não de bicicletas. O trânsito pelos passeios é forçosamente mais lento do que na faixa de rodagem. Por um lado, porque é necessário dar inteira prioridade aos peões. E, por outro lado, porque os passeios há inúmeros obstáculos para os veículos de duas rodas. Um ciclista que evite sistematicamente a faixa de rodagem e circule somente pelos passeios vai certamente demorar muito mais tempo a chegar ao seu destino, correndo muito provavelmente alguns riscos desnecessários.

4. Defenda os seus direitos!

Você tem o direito de circular de bicicleta na faixa de rodagem (exceto, naturalmente, em autoestradas e outras vias devidamente sinalizadas). Os condutores de automóveis e outros veículos motorizados têm o dever de partilhar a via pública com todos os veículos, incluindo as bicicletas. Não abdique dos seus direitos.

Ao seguir pela faixa de rodagem, está a contribuir para educar os condutores, acostumando-os à presença dos ciclistas na via pública. Uma maior visibilidade da bicicleta enquanto meio de transporte é um contributo essencial para a melhoria das condições de segurança para ciclistas. À medida que os condutores se vão habituando a circular junto com os ciclistas, tornam-se mais atentos e cuidadosos. Há estudos que mostram que, à medida que aumenta o número de ciclistas nas ruas, aumenta também a sua segurança, diminuindo o número e gravidade dos acidentes.


...relativizar onde é preciso

Devemos conhecer e respeitar o Código da Estrada sempre que ele defende a nossa segurança e a dos que nos rodeiam. O bom senso é útil para ajudar a discernir algumas situações onde podemos relativizar algumas regras. Em alguns casos, pode ser aceitável e até recomendável circular pelos passeios.

Um exemplo simples: numa via de alta circulação automóvel, com uma subida acentuada e velocidades de 70km/h ou mais, uma bicicleta pode efetivamente correr alguns riscos. Ainda que o seu lugar por direito e por dever seja na faixa de rodagem, se houver um passeio suficientemente largo, com piso apropriado e onde estejam a circular poucas pessoas, pode ser boa ideia seguir temporariamente pelo passeio. Obviamente, dando sempre prioridade aos peões, e acautelando todo o tipo de situações imprevistas: alguém que sai de um carro ou de um edifício, peões que mudam de repente de direção, crianças que correm ou brincam no passeio, etc.

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