Depois de algum tempo em que venho fazendo da bicicleta o meu meio de transporte pessoal na cidade, é curioso observar que por motivos diversos as outras modalidades de transporte não são verdadeiras alternativas. Para além das despesas associadas quer ao carro quer aos transportes públicos, a bicicleta permite-me poupar tempo e paciência. E quando se toma real consciência disso é quando ela nos falta...
De vez em quando, uma bicicleta precisa de alguma manutenção. E se andamos nela todos os dias, faça chuva ou faça sol, isso pode ser mais frequente do que desejaríamos. Uma afinação aqui, lubrificação ali, uma ou outra peça que empena ou que se vai desgastando... O ideal seria ter uma boa oficina perto do local de trabalho que fizesse esse serviço durante o dia, de modo a termos a bicicleta pronta a usar na hora de regressar a casa.
Pode até parecer um cenário um tanto ou quanto idealista, mas a verdade é que isso só não acontece por falta de mercado, ou seja, porque o número de bike commuters ainda é insuficiente para garantir a rentabilização do investimento. Aliás, em cidades como Londres, em épocas passadas em era generalizado o uso da bicicleta por parte da população, existiam mesmo essas oficinas junto às empresas, para que os trabalhadores não ficassem sem o seu transporte pessoal - reduzindo assim atrasos e absentismo.
Mas, voltando à nossa por vezes triste realidade, as lojas de bicicletas em Portugal estão ainda, na sua maioria, especializadas em equipamentos de desporto e/ou lazer. As bicicletas utilitárias são um nicho de mercado um tanto ou quanto residual e, provavelmente, pouco lucrativo. A modos que não só é difícil encontrar à venda uma boa variedade de bicicletas urbanas com o equipamento necessário (luzes, refletores, guarda-lamas, proteção de corrente, bagageira, dínamo), como é também frequente não haver nas oficinas certas peças de substituição para estas bicicletas.
Foi o que me aconteceu recentemente. A minha bicicleta tinha uma folga no movimento pedaleiro, pelo que decidi substituir a peça antes que ficasse empancado na estrada numa hora crítica. Substituíram o eixo pedaleiro e lá pude voltar às ruas, mas a coisa não ficou lá muito bem. Volta e meia, a corrente deixava de agarrar, impedindo o uso normal em subidas bem como o arranque em esforço após uma paragem nos semáforos, por exemplo. A modos que lá tive de levar o meu veículo novamente à oficina...
Segundo entendi, a peça que haviam utilizado era alguns milímetros mais comprida, pelo que o prato pedaleiro ficava um pouco deslocado da sua posição normal. Explicaram-me que havia dois tamanhos que usavam frequentemente, este e um outro que era pequeno demais e que não dava neste quadro. Ou seja, é preciso esperar dia após dia por uma peça que, digo eu, devia fazer parte do stock de qualquer oficina especializada em bicicletas.
Começo a pensar que o principal obstáculo ao uso da bicicleta como meio de transporte neste país é o tempo que demora uma simples reparação... Ou, dito de outra forma, preciso de uma bicicleta suplente!
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